O Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) se tornou uma referência mundial de programa de saúde pública, mas ainda não consegue atender aos mais de 200 milhões de habitantes do país. Como solução para a alta demanda, muitos brasileiros optam por planos de saúde particulares ou empresariais, mercado que em 2023 bateu o recorde de mais de 51 milhões de usuários, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
É neste cenário que o sergipano Izaias Pertrelly Almeida dos Santos conseguiu uma proeza. Ele montou um negócio no setor de saúde suplementar, junto com o sócio Lourival Araújo, no qual os custos e as reclamações são o que normalmente está em expansão. Conhecida como Blue Company, a empresa é um plano de saúde aberto em Salvador desde 2021, durante a pandemia. No ano passado, a receita da companhia cresceu impressionantes 2.952%, para 30,9 milhões de reais, a maior expansão entre as empresas com receitas de 30 milhões a 150 milhões de reais selecionadas para o ranking. A guinada veio na esteira da inclusão dos planos da Blue Company na carteira de corretoras de saúde com atuação nacional, como a Qualicorp, focada em planos coletivos por adesão, e a Texas.
Santos afirma:
“É diferente vender um plano de saúde e ele ser apenas um plano de doença. O objetivo da Blue é estimular uma visão preventiva da saúde, evitando assim complicações futuras.”
A ideia de criar o negócio nasceu na família
Formado em publicidade, e com um interesse autodidata por tecnologia, Santos entrou no setor de saúde em razão de uma dor familiar. Em 2016, a mãe dele sofreu um acidente vascular. Apesar de pagar um bom plano de saúde, ela quase morreu por falta de atendimento adequado. O drama fez Santos largar uma carreira como técnico de TI para empreender em saúde.
A primeira investida foi uma startup de telemedicina que, aberta muito antes da pandemia, acabou não vingando. Ao mesmo tempo, a empreitada deu motivos para ele conhecer a fundo os pormenores do mercado de saúde privada em conversas com clientes e gerentes de planos de saúde:
“Era todo mundo falando de doença o tempo inteiro e pouca gente de fato prestando atenção na promoção de saúde.Quis montar um plano focado na visão preventiva para evitar ao máximo complicações futuras.”
Com formação em Publicidade e Propaganda e em Perícia Criminal e Investigação, a dor pessoal de Santos com o caso da mãe e a curiosidade pela tecnologia o levou a empreender inicialmente em uma empresa de telemedicina, mas foi com a Blue Company que ele viu um negócio em expansão.
A expansão do negócio baseada em 3 ações
A companhia registrou no último ano o maior crescimento já visto de uma operadora de plano de saúde do Brasil, afirma Pertrelly, que destaca três ações neste período: nacionalização do negócio, humanização no atendimento e investimento em tecnologia.
O primeiro passo foi validar o negócio na Bahia, estado que não possui um alto índice de políticas públicas em saúde e há muitas pessoas com baixa renda. “Sabia que se o negócio desse certo na Bahia, poderia expor o produto para o país inteiro”. Depois de um ano, em 2022, o serviço começou a atender hospitais de outros estados e conquistou parceiros estratégicos para levar a marca a todas as regiões do país.
O segundo passo foi trabalhar na atenção com o cliente. “Ninguém com dor quer ser atendido por um robô”, diz Santos que conta que a reputação é algo valioso no mercado de saúde. “É um mercado validado pelo uso e isso reflete no número de vendas”. Nos últimos três meses, com atendimento primário realizado por humanos, a companhia vendeu mais de 10 mil planos por mês, com a maior força de vendas vinda do estado de São Paulo, que vende em média 100 planos empresariais por dia, e mais de 3 mil planos individuais. Logo depois aparecem Bahia e Pernambuco como os estados que mais prospectam a venda do produto.
O terceiro passo se concretizou com a tecnologia trabalhando em processos internos. Enquanto os planos de saúde mais tradicionais fazem análise de contas de forma manual, Santos investiu em uma inteligência artificial que faz análise de contas médicas. “Para falar com pessoas eu invisto no atendimento humano, e para cuidar de todos os processos eu invisto em tecnologia”. Com isso, os preços dos convênios da Blue Company acabam saindo mais em conta no mercado de plano de saúde, que no último ano teve um lucro líquido de 3 bilhões de reais no Brasil, segundo a ANS.
As expectativas do negócio
Com cerca de 200 funcionários, a companhia oferece plano com cobertura nacional, mas ainda não está comercializando em todos os estados.
“Até o fim do ano vamos ter uma força de vendas em todas as capitais”, diz Pertrelly que também tem entre os seus clientes São Paulo Futebol Clube, G4F, AGU, Ministério da Educação, SESC e SENAC.
No ano passado, os sócios mudaram a sede para a capital paulista, local que Pertrelly possui planos de expansão. Até o fim do ano, o executivo prevê a instalação, inicialmente em São Paulo, de 20 mini clínicas autônomas, no estilo cabines, para oferecer consultas com até 36 especialistas e mais de 18 exames. “Essas cabines serão alocadas em metrô, shopping e empresas e terá o uso de IA para análise avançada de doenças a partir de biomarcadores.”
Pelos cálculos de Santos, em média os planos da Blue custam 30% menos que os de concorrentes e atendem a um público cuja renda dificilmente permitiria a aquisição de um plano de saúde privada. Em razão do preço mais atrativo e da alta de vendas, a Blue Company ficou em primeiro lugar entre as empresas na categoria de 30 milhões a 150 milhões de reais do ranking Negócios em Expansão 2024 da Exame e busca seu primeiro bilhão até o final deste ano.
Fonte: Exame