Rede D’Or vai deixar de atender pacientes da Unimed Ferj em fevereiro

Oito meses após a migração dos usuários da Unimed-Rio, a Unimed Ferj acumula dívidas com hospitais e clínicas que passam dos R$ 2 bilhões. Os cálculos são da Associação de Hospitais do Estado do Rio (Aherj), que prevê a possibilidade de descredenciamento caso a operadora não se comprometa a quitar as cobranças. A Rede D’Or já anunciou que deixará de atender clientes da Unimed Ferj a partir de fevereiro. O plano de saúde afirma desconhecer os valores.

A quantia é a soma do passivo herdado pela operadora na transferência dos usuários da Unimed-Rio, de cerca de R$ 1,6 bilhão, com outros R$ 400 milhões em faturas mensais para estabelecimentos de saúde.

Inicialmente, a proposta da Unimed Ferj para os débitos anteriores à migração era um desconto de 30% e o pagamento em 36 meses, mas as negociações com a associação não continuaram, e os acordos passaram a ser feitos individualmente com cada hospital.

Apesar disso, segundo o presidente da Aherj, Marcus Camargo Quintella, as parcelas não estão sendo pagas em dia, formando uma “bola de neve” com as cobranças pelos serviços prestados pelos hospitais mês após mês, que também não são quitados de forma integral.

Risco de descredenciamento

Os hospitais propuseram, então, a inclusão das faturas mensais em aberto no passivo da Unimed-Rio e um reparcelamento, mas a decisão espera uma reunião entre as partes, a ser mediada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em nota, a reguladora afirmou que até o momento não há reunião agendada sobre o tema.

Segundo Quintella, se a operadora não se comprometer com os pagamentos, clientes Unimed Ferj podem deixar de ser atendidos em hospitais do Rio.

Os pacientes continuam chegando, e os hospitais não recebem. Não dá mais para subsidiar. Tudo caminha no sentido de que os hospitais serão obrigados a paralisar por não ter mais capital para sustentar o atendimento. Nossos profissionais e fornecedores não aguardam seis meses para receber.”

A Unimed Ferj tem na rede credenciada grandes grupos hospitalares, mas também pequenas instituições independentes. Segundo o presidente da Aherj, são os menores que mais sofrem com a falta de pagamento:

“Não há equidade nos pagamentos. Num mês, pagam a dívida antiga para um hospital. Noutro, quitam parcela corrente de outra instituição. A preocupação da operadora é com as grandes redes, que recebem a maior parte dos usuários e por medo de descredenciamento, mas tem estabelecimento, principalmente os pequenos, que não recebe há praticamente um ano.”

Só na maior prestadora de serviços hospitalares da operadora, são R$ 100 milhões em débitos anteriores à migração, além de R$ 60 milhões em faturas mensais atrasadas ou pagas apenas parcialmente. Um executivo da companhia diz que “não há intenção de descredenciamento, mas é impossível trabalhar sem receber”.

A Rede D’Or informou que, a partir de 18 de fevereiro, os seis hospitais credenciados Unimed Ferj — Quinta D’Or, Norte D’Or, Oeste D’Or, Glória D’Or, Perinatal e o Jutta Batista — deixarão de atender usuários da operadora “por motivos administrativos”. O atendimento dos pacientes que já estavam com tratamento em andamento será mantido.

Como informou o Valor, circularam no mercado comunicados de que os hospitais São Lucas, em Copacabana, e Nossa Senhora do Carmo, em Campo Grande, deixariam de atender usuários da Unimed Ferj a partir de 30 de dezembro. Mas a Dasa, dona das unidades, se limitou a dizer que não divulga detalhes de suas tratativas com parceiros comerciais.

Amil, com cinco unidades credenciadas, como os hospitais Pró-Cardíaco, em Botafogo, e Pasteur, no Méier, também não comentou.

Procurada, a Unimed Ferj informou que desconhece os valores mencionados pela Aherj. Sobre a dívida herdada da Unimed Rio, a operadora informou que “mais de 65% do montante assumido já foi renegociado, com as respectivas repactuações devidamente assinadas e em dia”.

Entre dívidas e descredenciamentos, estão os consumidores. A carteira da Ferj passa de 509 mil vidas, sendo 131 mil contratos individuais e 378 mil coletivos.

Segundo a ANS, as operadoras são obrigadas a oferecer aos beneficiários todos os procedimentos previstos no contrato e no rol da agência. Dessa forma, em caso de descredenciamento por parte do hospital, cabe ao plano de saúde manter o atendimento dos usuários de maneira compatível.

Médicos recebem menos

Outro gargalo nas finanças da operadora é relativo ao pagamento dos médicos cooperados. Na semana passada, os profissionais foram informados que receberão apenas 35% dos honorários, e não há um cronograma de acerto dos meses de novembro e dezembro.

Sobre isso, a operadora afirmou que houve um “evento pontual relacionado ao fluxo de caixa de final de ano”.

“De acordo com o cronograma vigente, a produção de novembro foi apresentada em dezembro, sendo paga em duas datas: a primeira parcela foi quitada integralmente, enquanto a segunda teve 40% de seu valor pago. A Unimed Ferj está empenhada em readequar a nova data para o pagamento”, diz o texto.

Fonte: O GLOBO