O setor de saúde no Brasil é conhecido por inovar pouco e operar com modelos de gestão consolidados ainda nos anos de 1990, nos quais os prestadores de serviços ainda são pagos pelo volume de procedimentos realizados, e não pela qualidade dos resultados. Esse modelo não apenas cria distorções no sistema, como também contribui para uma inflação médica significativa, com fraudes e desperdícios representando até 30% dos custos.
É nesse cenário que a Horuss AI, startup fundada por Joel Rennó Jr. — que foi CEO da Memed e CFO da OLX Brasil —, e seus sócios, os médicos Pedro Batista e Rafael Canineu, se propõe a mudar as regras do jogo, usando inteligência artificial para modernizar a gestão dos planos de saúde e otimizar o uso de dados das operadoras.
Segundo Rennó, a proposta é trazer eficiência ao organizar grandes volumes de dados médicos, financeiros e administrativos, algo que a maioria das operadoras ainda faz de maneira manual e, por vezes, em uma velocidade pouco adequada para a dimensão do setor. Um exemplo recente citado por Rennó envolve uma operadora de saúde para a qual a Horuss conseguiu identificar quase R$ 2 milhões em abusos contratuais, que poderão ser economizados ao longo dos próximos 12 meses.
“São prejuízos tomados pela precificação exagerada em medicamentos de alto custo, reembolsos por serviços que nunca foram prestados e cobranças médicas incoerentes, onde hospitais e médicos cobram mais do que realizaram de fato”, explica Rennó.
Além das fraudes, a plataforma também atua na redução de desperdícios, algo fundamental para quem quer ser mais eficientes. Para outro cliente, por exemplo, a Horuss gerou uma economia de R$ 3,5 milhões ao ajustar processos na jornada dos pacientes, evitando exames desnecessários e otimizando o uso de recursos médicos.
Um exemplo ainda mais prático da plataforma de IA da Horuss está na Norden, uma operadora de planos de saúde com rede própria de hospitais. O CEO da Norden, Antonio Pinotti, destaca como ter os dados analisados por uma IA foi decisivo para reduzir o uso excessivo de prontos-socorros. “Identificamos, com a ajuda da plataforma, que nossos clientes estavam indo ao pronto atendimento para casos que poderiam ser resolvidos em consultas regulares. Com a análise de dados, conseguimos reeducá-los e reduzimos em 3% o sinistro total da operadora”, afirma Pinotti.
Além disso, a IA da Horuss permite atuar preventivamente, identificando riscos antes que se transformem em problemas mais complexos. Em uma demonstração na presença da reportagem da EXAME, com alguns cliques no sistema, Pinotti descobriu que 71% dos seus clientes estavam com exames de mamografia atrasados. Munido dos dados, poderia, em outros poucos cliques, segundo ele, acioná-los proativamente, alertando os pacientes e evitando sobrecargas na rede. “A grande vantagem da IA é que temos dados organizados e, mais do que isso, usamos esses dados de maneira estratégica”, destaca Pinotti.
A primeira rodada
Recentemente, a Horuss levantou R$ 17 milhões em uma rodada de investimento liderada pela Headline Ventures, mas o foco da empresa está na expansão de suas soluções tecnológicas. A startup tem como objetivo não apenas oferecer integração de dados, mas também usar IA para prever riscos de saúde, como doenças crônicas, e permitir que as operadoras tomem medidas preventivas mais rápidas e eficientes.
Com a população brasileira envelhecendo e a pressão crescente sobre os sistemas de saúde, Rennó vê a Horuss AI como parte essencial da modernização do setor. “O volume de dados gerados pela saúde no Brasil é gigantesco, mas a maior parte deles está desorganizada. Nossa missão é transformar esses dados em inteligência real, capaz de impactar diretamente a qualidade dos serviços e a eficiência das operadoras”, conclui.
Fonte: Exame