Amil investe na ampliação de serviços de pediatria no Rio

A decisão da Rede D’Or de deixar de atender usuários da Amil em três de seus hospitais no Rio de Janeiro acelerou investimentos da operadora de saúde em pediatria na capital fluminense. Na segunda-feira, a empresa abre as portas de um serviço de emergência pediátrica na Zona Sul, no Pró-Cardíaco, em Botafogo, projeto de R$ 10 milhões.

Em outra frente, concluiu também uma expansão na pediatria do Hospital Vitória da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, com a implementação de um Centro de Transplante de Medula Óssea (TMO) pediátrico, dobrando a capacidade de realização desse tipo de procedimento para 40 por ano.

No fim de julho, a Rede D’Or comunicou que seus hospitais Copa D’Or, em Copacabana, Quinta D’Or, em São Cristóvão, e Hospital Pediátrico Jutta Batista, em Botafogo, deixarão de atender beneficiários da Amil a partir de 17 de setembro, por questões administrativas.

Renato Manso, diretor executivo da Amil, afirma:

“Não há problema em nossa rede (de hospitais) para absorver a demanda de atendimento adulto para esses hospitais descredenciados pela Rede D’Or. Na pediatria, acabou estimulando abrir essa emergência no Pró-Cardíaco. Colocamos o projeto de pé em menos de dois meses.”

A emergência pediátrica da Amil em Botafogo, portanto, entra em operação antes ainda da suspensão do atendimento de usuários da operadora de saúde pelo Jutta Batista, referência em pediatria na Zona Sul do Rio.

O novo serviço terá o nome de Pró-Criança Amil, em referência ao Pró-Criança Cardíaca, projeto da cardiologista pediátrica Rosa Célia, iniciado em 1996 no Pró-Cardíaco e transferido para o Jutta na abertura do hospital, em 2014.

Espaço para ampliação

A reativação da pediatria no Pró-Cardíaco, conta Manso, se deu em uma situação similar à atual, em 2019, mas na direção contrária, quando o então presidente da Amil decidiu descredenciar um conjunto de hospitais da Rede D’Or.

Charles Souleyman Al Odeh, diretor executivo dos hospitais da Amil no Rio de Janeiro, destaca:

“Agora, teremos um serviço completamente adaptado para a pediatria e que se beneficia da estrutura de um hospital geral como o Pró-Cardíaco. Ele nasce com dez leitos, sendo dois de UTI. Mas já com capacidade de expansão para mais 12.”

A emergência do Pró-Criança terá capacidade para atender até duas mil crianças ao mês. Vai funcionar 24 horas e conta com 20 médicos plantonistas, 14 na UTI, além de equipe para subespecialidades pediátricas. A direção da instituição ficará a cargo de Ricardo Periard (Diretor Executivo) e de Dominique Thielmann (Diretora Médica). A coordenação ficou sob a responsabilidade da pneumologista pediátrica Camila Pitanga, que diz: “Estamos abrindo um serviço de pediatria altamente tecnológico na Zona Sul do Rio. Com uma equipe médica bem selecionada e preparada tecnicamente para o acolhimento do paciente.”

O atendimento à criança será completo, de brinquedoteca a exames, cirurgias de emergência e eletivas, além de leitos de internação, incluindo UTI – todos com equipamentos de última geração para situações que envolvam desde atendimentos simples até alta complexidade. Está instalada num espaço de 500 metros quadrados, com estrutura própria e entrada separada da utilizada pelos pacientes adultos do Pró-Cardíaco.

Para Charles Odeh, “o incremento que o Pró-Criança Amil traz para a Zona Sul do Rio é toda a infraestrutura e tradição do Pró-Cardíaco agora também direcionada à criança, além do nosso acolhimento de excelência. No novo hospital teremos uma equipe multiprofissional com fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, todos os profissionais dedicados à pediatria. Não é uma extensão do tratamento adulto. É um serviço totalmente voltado à criança.”

O Vitória Barra, unidade referência da Amil em atendimento de alta complexidade infantil no Rio, está concluindo uma rodada de R$ 30 milhões de investimento em cinco anos, ancorada no centro de TMO. O hospital já realiza transplantes pediátricos.

Ao todo, a Amil passará a contar com 120 leitos em pediatria, considerando o novo serviço em Botafogo, o Vitória Barra, o Hospital Pasteur, no Méier, Zona Norte, e o Hospital de Clínicas Mário Lioni, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.

Na visão de Renato Manso, a exclusão dos três hospitais da Rede D’Or já é um “cenário dado”, daí terem optado por agilizar o projeto de emergência pediátrica, evitando vulnerabilidades em atendimento. Ele frisa que a Amil conta com 70 hospitais da Rede D’Or credenciados no país, numa operação que segue normalmente.

“Na pediatria, (o descredenciamento de hospitais pela Rede D’Or) acabou estimulando abrir essa emergência no Pró-Cardíaco. Colocamos o projeto de pé em menos de dois meses”, Renato Manso, diretor executivo da Amil.

A Amil informou que foi surpreendida pela decisão do grupo hospitalar, tendo acordado os novos valores para remuneração de serviços prestados em maio. A Rede D’Or tem reforçado que mantém o diálogo em aberto com a operadora de saúde parceira.

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Empresas de planos de saúde vêm atuando para fazer frente à alta das despesas assistenciais, que saltaram no pós-pandemia. Entre as medidas para fazer isso estão o descredenciamento de rede de atendimento e o cancelamento de carteiras de planos de saúde avaliados pelas operadoras como deficitárias.

Esta última acabou brecada por um acordo fechado entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e os planos de saúde, no fim de maio.

Transtorno ao usuário

Adquirida do americano UnitedHealth Group por José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, no fim de 2023, a Amil passa por uma reestruturação. Para avançar em receita, adotou medidas como assumir a gestão da carteira da Golden Cross e fechou um acordo com a Dasa, para originar um grupo com 25 hospitais.

Em paralelo, atua para cortar despesas, ajustando a equipe, a rede de hospitais e cancelando planos considerados deficitários.

Uma das unidades fechadas foi o Espaço Saúde Alphaville, em Barueri, São Paulo, o que foi informado pela operadora em seu site no fim de junho, dando como alternativas em atendimento ao usuário o Hospital Nove de Julho Alphaville, em frente ao ponto fechado, e o Amil Espaço Saúde Osasco.

Alguns usuários de planos da Amil, no entanto, têm se queixado de dificuldade nesses casos, como ocorreu com a aposentada Eliana Ximenes, de 76 anos. Moradora de Barueri, ela foi até o Nove de Julho na madrugada do último dia 8, passando mal, e teve o atendimento negado.

“Falaram para eu ir para Osasco, a mais ou menos 12 quilômetros dali. Mas como eu iria dirigindo sozinha, aos 76 anos, de madrugada, para outra cidade?”

Ela acabou optando pelo atendimento particular e, agora, pleiteia o ressarcimento do gasto pela operadora: “No meu contrato, não tenho direito a reembolso, mas eles tiraram o pronto atendimento aqui da região. Então agora eu vou brigar por esse dinheiro”, afirma.

Procurada, a Amil respondeu em nota que “pede desculpas pelo transtorno causado”. Disse que irá contatar a beneficiária para reembolsá-la pelos gastos com o atendimento. E que o Hospital Nove de Julho Alphaville está em processo de credenciamento para a categoria de plano de saúde da cliente.

Fonte: O GLOBO / Blog do Corretor